domingo, 25 de março de 2007

Clássicos e apagão marcam show de Roger Waters no Rio



Ex-baixista do lendário grupo Pink Floyd, Waters emocionou fãs cariocas.

Apresentação foi interrompida por pouco mais de dez minutos.
Menino João Hélio foi lembrado em homenagem.
"Não é Roger Waters. É o próprio Pink Floyd buscar", gritou uma fã após "Shine on you crazy diamond" terminar.

Foi nesse clima que o músico inglês se apresentou para 35 mil pessoas em um sambódromo lotado nesta sexta-feira (23), no Rio, com um show marcado tanto pelos clássicos compostos por Waters quanto por um apagão de mais de dez minutos ocorrido perto do final da primeira parte.

O problema técnico, cujo motivo não foi revelado no momento, não tirou o humor de ex-Pink Floyd. Passado o susto, ele brincou: "Vocês cantaram tão alto que o som estourou".

O show foi iniciado pontualmente às 21h30, logo após uma chuva fina dar trégua. Um Roger Waters vestido totalmente de preto subiu ao palco e começou a mostrar faixas como "In the flesh" e "Mother" (ambas de "The wall") e "Wish you were here" até chegar à esperada segunda parte, quando as faixas do álbum "The dark side of the moon", pedra fundamental do rock progressivo, são apresentadas para a platéia. Muitos dos cariocas ficaram extasiados com a oportunidade e a premissa da turnê, que ainda passa neste sábado em São Paulo - os 45 mil ingressos colocados à venda já estão esgotados.


Outro ponto alto da apresentação nesta segunda vinda de Waters solo ao Brasil - a primeira ocorreu em 2002 - foram os "efeitos especiais". O telão de alta resolução fazia uma combinação com jogos sonoros e brincava com o público. Labaredas foram lançadas no palco e nas laterais.
O famoso porco voador, marca visual do disco "Animals" (1977) e um dos elementos cênicos mais esperados, trazia frases como "Bush, não estamos à venda", "Ordem e progresso?", "Medo constrói muralhas", além da referência ao caso do menino João Hélio Vietes, morto no dia 7 de fevereiro. "Hey killers. Leave our kids alone" (Ei assassino. Deixem nossas crianças em paz), frase escolhida em um concurso, era também um jogo com a letra de "Another brick in the wall".

Esta última faixa, quando foi interpretada no bis, ganhou o reforço do coro infantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Pensei que esse dia nunca fosse chegar. Tinha tanto medo de morrer e não ver esse dia chegar. Hoje foi um marco para nós que gostamos de rock", disse emocionado Carlos Quirino, de 40 anos, mergulhador e fã de Roger Waters.

Após "Confortably numb", Waters se despede do público, à meia-noite e quinze, quase três horas depois do início do show, e se despede do público. Neste sábado, 45 mil pessoas em São Paulo, no estádio do Morumbi, esperam pela passagem do músico inglês.

Porco levou mensagens que lembraram a morte do menino João Hélio, que foi arrastado por bandidos. (Foto: Marcos D'Paula/ Agência Estado)

Com clássicos do rock, Roger Waters levanta a platéia de SP


Principal letrista do Pink Floyd tocou sucessos mais populares da história do grupo.
Mais de 40 mil pessoas compareceram no estádio do Morumbi.

Demorou pouco mais de dez anos, mas finalmente o público brasileiro teve a oportunidade de ver ao menos uma versão do "Pulse", show do Pink Floyd consolidado no final da década passada como o equivalente à "obra de arte total" no meio rock 'n roll: Confluência de som e imagem, aquele disco duplo lançado nos anos 90 que tinha uma luz vermelha piscante. Só faltaram os lasers.

O show de Roger Waters foi isso. Uma versão nem um pouco pior, mas sem dúvida um pouco mais modesta do que seus ex-parceiros de banda no Pink Floyd registraram num dos shows mais clássicos do rock, lançado em 1994, em CD e DVD.


Foram mais de 20 músicas, entre elas 11 de um dos discos mais importantes e populares da história do rock, o "Dark side of the moon", tocado integralmente , do começo ao fim, sem parar nem para respirar. Vídeos, interpretações, coros, tudo o que todo fã sonhava, mas nem tinha mais esperança de que pudesse ver.

No Morumbi, em São Paulo, onde Roger Waters fez seu segundo show no Brasil, depois de passar pela Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, ontem, cerca de 45 mil pessoas viram o fundador e principal letrista do Pink Floyd tocar as músicas mais importantes da história do grupo. Além do "Dark side...", várias do "The Wall" e poucas, mas não menos boas, da carreira solo dele depois de tentar acabar com o Pink Floyd.

"Perfect Sense", do disco "Amused to death", por exemplo, foi recebida tão bem pelo público quanto "Sheep", música do "Animals", do Floyd, que finalizou a primeira parte do show e na qual foi inflado o porco gigante em que era invertida uma das letras mais clássicas do grupo.

Em vez do conhecido refrão em que crianças gritam que não precisam de educação, em "Another brick in the wall", o balão tinha dizeres garrafais de que "tudo o que precisamos é educação". Do outro lado, um pedido: "Assassinos, deixem nossas crianças em paz", quando o original pede aos professores que parem de incomodar os garotos.

É difícil acusar Waters de ter copiado a fórmula de sucesso do Pink Floyd sem ele, tocando os clássicos, num show que parece nostalgia, mas é mais atual de que muitas bandas que surgiram ontem.

Sem ele, que formulou os conceitos por trás dos principais discos que compõem o show, a banda nem sequer existiria. A apresentação, entretanto, soa muito parecida com a que foi gravada por seus ex-parceiros de banda, trocando apenas alguns elementos que não chegam a influir no resultado final.

Considerando que o grupo parece realmente ter sido extinto pelos componentes que herdaram o nome da banda, ver o único dos fundadores do Floyd na ativa realizando o sonho dos fãs num show intenso que terminou deixando todos "confortavelmente entorpecidos", não deixa de ser uma experiência inesquecível.

Religiosos impõem restrições para ouvir música no Iraque


Letras também captam a tragédia da carnificina em Bagdá.
Com proibições, internet hoje é meio mais seguro para fazer música circular.
Omar Sinan da Associated Press


Os olhos de Farouk Hassan se enchem de lágrimas quando ele coloca o CD para tocar no carro e canta junto com o mais novo sucesso, um lamento ao amor perdido: a Bagdá destruída pela violência.

Mas não são apenas as letras da canção que captam a tragédia da carnificina em Bagdá.

O pop star que canta a música, o jovem que a escuta e até os funcionários da loja de discos que lhe venderam o CD estão entre as milhares de pessoas que deixaram a capital iraquiana.

Percorrendo as ruas de Sulaimaniyah, 290 quilômetros ao norte de Bagdá, Hassan – que fugiu da capital há alguns meses – lembra que os amigos em sua cidade natal não podem sequer escutar música em público, temendo chamar a atenção de militantes islâmicos que consideram a música pop como uma força capaz de corromper.

"A música consegue envolver uma pessoa em todas essas emoções, é incrível", declarou Hassan, enxugando as lágrimas dos olhos. A música consegue "realmente comover as pessoas que sentem saudade de casa", acrescentou.

Cerca de 1,8 milhão de iraquianos deixaram o país ao longo de quase quatro anos de violência desde a queda de Saddam Hussein. Quase o mesmo número de pessoas deixou suas casas para se refugiar em outras partes do Iraque, muitas em Sulaimaniyah e outras cidades da região ao norte do Curdistão, que foram quase que totalmente poupadas da guerra.

Em meio ao caos, extremistas muçulmanos xiitas e sunitas tornaram-se mais audaciosos na imposição de restrições religiosas – obrigando o fechamento de lojas de CDs e DVDs. Houve casos em que funcionários dessas lojas foram assassinados.

Na loja especializada em música Aldar Albaidaa, em Sulaimaniyah, de onde Hassan é cliente assíduo, um dos vendedores, Ammar, sentiu na pele os perigos do ramo da música.

Ammar, que preferiu não revelar seu sobrenome temendo represálias contra sua família, chegou a gerenciar uma loja de discos na região leste de Bagdá. No entanto, em setembro, seguidores do líder radical xiita Muqtada al-Sadr foram à loja e ordenaram que fechasse as portas.

"Seu infiel seguidor do demônio...você merece morrer por incentivar a depravação e o adultério nos muçulmanos", dizia a carta que deixaram.

Ammar, 21, disse que em princípio não levou a ameaça a sério. Mas em seguida, os homens vestidos de preto abriram fogo contra a loja, destruindo-a e ferindo o rapaz.

Poucos dias depois, ele deixou a família e os estudos da faculdade e partiu para Sulaimaniyah, onde conseguiu emprego na Aldar Albaidaa.

Pop árabe

É possível escutar de longe a música pop árabe que vem da loja instalada na mais importante rua comercial de Sulaimaniyah. As paredes da loja são decoradas com cartazes de cantoras ocidentais e árabes em trajes diminutos. Em qualquer outro lugar do Iraque, isso seria suficiente para incitar ataques de extremistas, mas Sulaimaniyah e o restante do independente Curdistão são em maioria seculares.

A própria cadeia de lojas de música Aldar Albaidaa também não deixa de ser um tipo de refugiada. Abriram uma unidade em Sulaimaniyah porque já não era mais seguro vender música nas áreas centrais e ao sul do Iraque, contou o gerente da filial, Ahmad al-Ahmad.

Integrantes de milícias invadiram a filial de Bagdá da cadeia de lojas e exigiram o seu fechamento, contou o gerente de Bagdá à Associated Press por telefone.

Ele conseguiu negociar a permanência da loja em funcionamento, mas desde que seguisse um conjunto de rígidas condições: nada de cartazes de cantoras na vitrine e nada de alto-falantes tocando música do lado de fora.

"Os negócios não são como antes", contou o gerente, que pediu para que a identidade fosse mantida em sigilo temendo represálias. "As pessoas têm medo até de entrar na loja com receio de estarem sendo observadas".

Al-Ahmad, o gerente da filial de Sulaimaniyah, disse que os CDs campeões de venda em 2006 foram os que evocavam emoções dos iraquianos que haviam fugido da violência, com títulos como "Não esquecemos o Iraque" e "Os sofrimentos do nosso povo".

Na lista dos artistas mais populares está Hossam al-Rassam, o cantor iraquiano que Hassan escutava no carro.

"Que pena, Bagdá era a jóia dos árabes, mas foi vendida em um leilão" canta al-Rassam, que agora mora na Síria, em tom melancólico.

Em outras canções, al-Rassam toca ud – um instrumento musical árabe parecido com o alaúde – e canta seguindo o estilo poético tradicional do Maqam para extrair o máximo de emoção das letras, suplicando à sua terra natal que perdoe os que a deixaram.

Internet

Diante do medo de comprar discos, muitos habitantes de Bagdá agora recorrem à internet.

Anwar Getan, residente na região leste de Bagdá, conta que faz o download de músicas e as salva no cartão de memória do telefone celular, trocando-as com vizinhos e amigos.

"Usar o celular para escutar músicas é muito mais seguro do que se arriscar indo até as lojas", revelou ele.