quarta-feira, 25 de abril de 2007

Aerosmith esquece o hard rock e pega leve no Morumbi

Repertório priorizou baladas açucaradas como "Jaded" e "Cryin".
Velhos sucessos apareceram, mas sofreram com o som e o descaso do público.
Eles são conhecidos como a maior banda de hard rock da América. Mas, em sua apresentação nesta quinta (12) para 62 mil em São Paulo, o Aerosmith pegou leve. Mesmo com espaço para velhos clássicos roqueiros, como “Toys in the attic” e “Walk this way” - que acabaram prejudicados pelo som baixo dos alto-falantes do estádio - o que se viu em boa parte da noite foi um desfile dos hits açucarados que se tornaram a marca registrada do grupo especialmente a partir da década de 1990: “Jaded”, “Cryin”, “I don’t want to miss a thing”...



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Foi ao show?



O problema é que, por mais que os fãs mais antigos relutem em admitir, este é um Aerosmith que há muito se tornou uma banda de FM, que parece satisfeita em emplacar suas músicas na trilha-sonora de uma superprodução de Hollywood ou no top 10 da MTV. Pelo menos 40 anos mais velho que a média de idade do público que estava lá para assisti-los, Steven Tyler, o carismático frontman do grupo, sabe bem como arrancar suspiros da meninada: sobe ao palco trajando regata e calças brancas justíssimas, corpo esguio mas bem torneado, rebola, abusa das caras e bocas. Mas, diferentemente de Mick Jagger, por exemplo – outro senhor que se transforma em um jovem de 20 quando sobe ao palco -, o vocalista do Aerosmith transmite uma imagem de boa praça. É sexy, mas inofensivo, longe de ser o bad boy que vende a alma ao demônio.

Mas, por trás de toda a atitude performática de Tyler, que corre de lá para cá no palco durante todas as quase duas horas de show, o que mais impressiona ainda é o seu desempenho vocal em faixas como “Dream on” e “Living on the edge”. O sujeito não é lá um Frank Sinatra do rock, claro; sua a voz é rouca, curtida por anos de bebedeiras, mas quando manda os seus gritos característicos - yeaaah! -, Tyler volta a soar como se estivesse ainda no auge de sua juventude, mandando às favas a orientação do médico que um ano atrás o afastara do palco para se recuperar de uma cirurgia na garganta (além da hepatite-C, que recentemente também foi incluída na conta do velho roqueiro).

A bela e a fera


De rosto colado com ele, mas representado um papel diametralmente oposto, o guitarrista Joe Perry oferece o contraponto necessário para Tyler no palco. Dono de riffs e solos poderosos, como os de “Janie’s got a gun”, “Dude (Looks like a lady)” e do próprio “Walk this way”, o senhor de cabelos crespos esvoaçantes projeta-se no palco como um legítimo guitar hero, trocando de instrumento a toda hora, levantando-o para cima e não raro para as costas para delírio do público – ou de parte dele, o do “hard rock”.

Por volta da metade da apresentação, como que para mostrar que a fera também tem vez, Perry assume o microfone e emenda um bloco blueseiro que inclui “Baby, please don’t go” e “Stop messin’ around”, regravações de velhos standards do gênero, que compõem o pouco lembrado álbum “Honkin’ on bobo”, de 2004. A pausa e as longas jam sessions de certa forma atrapalham a dinâmica do show, deixando o público calado à espera do próximo hit, mas Perry, Tom Hamilton (baixo), Brad Whitford (guitarra), Joey Kramer (bateria) e até Tyler, que agarra uma gaita ou um chocalho, parecem se divertir como nunca.


E, como que para não deixar ninguém se esquecer de que o sangue quente ainda corre nas veias da banda, é Perry novamente quem protagoniza um dos momentos mais rock’n’roll do show: ao final da última música antes do bis, ele levanta a guitarra que havia jogado ao chão, pega distância, põe-se a correr e se lança por cima da bateria de Kramer com instrumento e tudo. A turma de 20 e poucos anos lembrou de Kurt Cobain.

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